FIDC acusa corretora por prejuízo quase total e cobra R$ 78 mi

Antiga Socopa, hoje QI Tech, TYR e empresas de cobrança são apontadas pelo fundo como corresponsáveis A corretora Singulare – antiga Socopa e atual QI Tech – está sendo acusada de negligência durante a sua administração do FIDC Nacional Invest, após o fundo perder R$ 72 milhões, ou 96% dos ativos, que hoje somam menos de R$ 460 mil. Em valores corrigidos, a ação que corre na 10ª Vara Cível de Curitiba pede uma indenização de R$ 78 milhões.
A Singulare foi administradora do FIDC Nacional desde sua criação, em 2021 — ano em que a tradicional Sociedade Corretora Paulista (Socopa), fundada em 1967, passou a adotar o novo nome —, até ser destituída e substituída pela Intra Investimentos, em 2023. Em novembro do mesmo ano, a QI Tech adquiriu a Singulare. Devido ao esvaziamento da carteira, o fundo está em fase de liquidação.
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O processo, de autoria da administração atual do FIDC, também relaciona a TYR Gestão de Recursos como responsável pelas ordens de compra e venda dos direitos creditórios. E acusa as empresas de cobrança Valoren Administradora de Bens, Personalite Securitizadora e 2F Serviços Administrativos, além do sócio-administrador das três, Felipe Fernandes Luiz, por desvio nos pagamentos de que o fundo seria titular.
“Todos os prestadores são solidários nos prejuízos provocados”, explicam os advogados Luciano Vernalha, Diogo Lecheta e Willian de Meira, que representam o fundo em sua administração atual, autor da ação.
A Singulare, como então administradora do Nacional FIDC, teria o papel de subcontratar e fiscalizar a atuação dos demais fornecedores. “Por exercer uma função de gatekeeper, ela deveria ter barrado todas as operações fraudulentas na primeira oportunidade”, dizem os profissionais do L.Vernalha.
Ilustração martelo e balança da Justiça
Pixabay
Segundo a ação, muitos pagamentos dos devedores cujos títulos estavam na carteira do FIDC foram feitos diretamente às empresas de Felipe Fernandes e jamais repassados ao fundo. “Ele usou funções de confiança para desviar, em favor de suas empresas, todo patrimônio que deveria ser pago ao Nacional FIDC pelos devedores desses títulos”, afirmam os advogados.
A petição do fundo inclui um relatório de auditoria da Kroll, nomeada pela Justiça, com indícios de conflitos de interesse na cessão dos direitos creditórios para as empresas de cobrança contratadas pelo fundo. Estas haviam se tornado, ao mesmo tempo, devedoras do fundo, além de credoras e garantidoras das dívidas que deveriam cobrar para recebimento pelo Nacional.
O regulamento do FIDC exigia que a quitação das dívidas transformadas em ativos fosse feita diretamente ao Nacional, credor delas.
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O rombo começou a ser percebido pelos cotistas do Nacional ao longo de 2023, quando o fundo passou de R$ 80 milhões em ativos, em fevereiro, para apenas R$ 2,5 milhões em janeiro de 2024. As perdas foram informadas e justificadas em diversos comunicados de provisão para devedores duvidosos (PDD) divulgados nesse período.
Esse sequencial esvaziamento do fundo, no entanto, já foi reportado com atrasos de pelo menos seis meses, devido às sucessivas recompras artificiais dos títulos, que distorciam o perfil de risco das dívidas e adiavam sua classificação como PDD, segundo Vernalha.
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Procuradas pela reportagem, a QI Tech disse que não comentaria o processo e a TYR não retornou aos pedidos de comentários. Felipe Fernandes e as empresas 2F, Personalite e Valoren – todas em recuperação judicial – não constituíram advogados na ação e não foram localizados até a publicação desta reportagem, que poderá ser atualizada para inclusão de posicionamento dos mesmos.
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