Quer cruzar o seu cavalo? Veja o que você precisa saber antes de realizar o procedimento

Desde o monitoramento do ciclo até a inseminação artificial, especialista explica como otimizar o manejo reprodutivo dos cavalos A reprodução de equinos costuma chamar a atenção de quem vive o dia a dia do campo ou se interessa pela criação de animais. Mas o processo vai muito além de apenas juntar um garanhão e uma égua. Quando o objetivo é garantir qualidade genética e bons resultados na criação, a reprodução exige planejamento, técnica e acompanhamento veterinário especializado.
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Em entrevista à Globo Rural, o professor doutor Marco Antonio Alvarenga, médico veterinário e presidente da Associação Brasileira de Médicos Veterinários de Equídeos (Abraveq) explica que, atualmente, a forma mais comum de reprodução entre cavalos no Brasil é a inseminação artificial com sêmen refrigerado.
Acompanhamento veterinário para identificar o cio é fundamental, explica especialista
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O Brasil é líder mundial na transferência de embriões, uma técnica que permite que éguas de alto valor genético tenham mais de um potro por ano. Nesse processo, os embriões são coletados e implantados em outras éguas, conhecidas como receptoras ou, popularmente, “mães de aluguel”, conta Alvarenga.
Esse avanço brasileiro acompanha uma tendência global. De acordo com a International Embryo Technology Society (IETS), a partir de 2021 houve um crescimento expressivo na produção in vitro de embriões em animais de fazenda — com destaque para bovinos e equinos. América do Sul e América do Norte lideraram os números mundiais, mesmo em um cenário de pandemia.
Como funciona a inseminação artificial de equinos?
De acordo com o professor Marco Antonio, o sêmen do garanhão (macho reprodutor) é coletado em centrais de reprodução especializadas e transportado em caixas refrigeradas apropriadas, podendo ser utilizado em até 48 horas após a coleta. “A gente pode ter um cavalo em São Paulo e inseminar uma égua em Pernambuco, por exemplo”, explica.
Também existe a possibilidade de utilizar sêmen congelado, que pode ser armazenado por tempo indefinido. Em ambos os casos, o acompanhamento do ciclo reprodutivo da égua é fundamental. Esse controle é feito por um médico veterinário, geralmente com o uso de ultrassonografia, para identificar o momento mais adequado da ovulação.
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Essa precisão no momento da inseminação é o que aumenta as chances de uma gestação bem-sucedida. “É um processo parecido com o que se faz na reprodução assistida humana”, destaca o professor.
Como funciona o ciclo reprodutivo da égua?
A fertilidade da égua está diretamente ligada à quantidade de luz do dia. Segundo o professor, “elas ciclam naturalmente de setembro até março ou abril. Depois, com a chegada do outono e inverno, o ciclo reprodutivo costuma cessar”. Ou seja, o período fértil se concentra nos meses de maior luminosidade.
O doutor esclarece que durante essa fase, a égua ovula aproximadamente a cada 20 dias — o que pode variar de animal para animal. Por isso, o acompanhamento veterinário é importante para identificar com precisão o melhor momento para a inseminação.
E a monta natural, ainda é feita?
Apesar de muito associada à reprodução de cavalos, o cruzamento ou monta natural é cada vez menos comum. “A maioria das éguas de alto valor genético — cerca de 80% a 90% — não passa mais por cobertura natural. A reprodução é feita via inseminação, com sêmen transportado ou congelado”.
Ainda assim, a monta natural não desapareceu completamente. De acordo com Alvarenga, a raça que mais a utiliza hoje é o cavalo crioulo, com 20 a 30 mil nascimentos por ano, número semelhante ao do mangalarga marchador.
Há também a reprodução chamada “campa” — quando o cavalo é solto com as éguas — é cada vez menos comum. “Ela só ocorre em situações muito específicas, quando os animais já estão acostumados à convivência nesse tipo de manejo. Mas o risco de acidentes, como lesões e coices no garanhão, é alto, então quase não se faz mais”, alerta o professor.
Quais os cuidados ao fazer o cruzamento?
Além do controle do ciclo e da escolha da técnica adequada, outro ponto fundamental é evitar o cruzamento entre animais com parentesco próximo.
“Cruzamento de pai com filha, por exemplo, não é indicado. A consanguinidade pode trazer malformações, perdas gestacionais ou potros com desenvolvimento abaixo do esperado”.
Para o especialista, o ideal é sempre seguir um planejamento genético responsável, com acompanhamento técnico e foco no bem-estar animal e na qualidade dos produtos da criação.
Quanto tempo dura o cruzamento?
Marco Antonio detalha que, se for feita por cobertura natural, o ato de acasalamento dura apenas alguns minutos. Já na inseminação artificial, o processo completo leva mais tempo: envolve o monitoramento do ciclo reprodutivo da égua, a coleta e o transporte do sêmen e, por fim, a aplicação no momento exato, o que pode levar alguns dias.
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