Como um colégio da zona sul de São Paulo quer consolidar a educação básica

Venda de escolas de bairro são alternativa à sucessão famíliar - foto: Divulgação
Se alguém dissesse para a educadora Regina Alves que o Instituto Educacional Pequerrucho’s que ela estava criando 40 anos atrás no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo, se transformaria numa rede de ensino na capital paulista e região metropolitana, com braço até em Minas Gerais, seria difícil acreditar.
Transformado no Colégio Decisão já em seus primeiros anos, para seguir com os alunos que passariam aos antigos primeiro e segundo graus, a rede já soma 23 endereços, sendo 19 deles por aquisições. A compra mais recente foi do Renovatus, em Campinas, a sexta escola do grupo na região. Em diferentes estágios de negociação – em cinco delas, mais avançados –, estão 22 escolas, sempre em locais complementares aos atuais, diz o diretor de expansão, Rafael Camacho.
A meta da Rede Decisão é chegar a 51 escolas de educação infantil ao ensino médio até 2030. Em comum, além do tamanho – de 500 a 700 alunos –, há o momento da história em que se encontram, em geral em fase de sucessão dos fundadores, que nem sempre contam com herdeiros com vocação ou interesse para seguir na atividade.
Não foi o caso do filho mais velho de Regina, Gabriel Alves, que em 2014 levou aos pais e ao irmão a ideia de profissionalizar a gestão do colégio e transformá-lo na rede Decisão, da qual hoje é CEO. A primeira aquisição viria em 2016, seguida pelos aportes das gestoras de impacto Blue like an Orange e Rise Ventures, em 2021 e 2024, de R$ 60 milhões e R$ 20 milhões respectivamente.
A família de Regina e Gabriel segue como controladora da Rede Decisão, que conta com seis sócios principais e investidores também pessoa física, como o CEO da Cosan, Marcelo Martins. “Conseguimos unir negócio familiar com a sofisticação de governança do mercado financeiro”, define o diretor de expansão, que conheceu Gabriel quando trabalhavam num fundo de investimento na Faria Lima.
Além de evitar o fechamento de outras escolas de bairro, a tese é transformar essas empresas familiares em ativos de alto desempenho – aproveitando as sinergias administrativas, de compras e custos em geral. Ao mesmo tempo, promete destravar receitas em um mercado tradicionalmente pulverizado. “Não pegamos escola em dificuldades financeiras graves”, avisa Camacho. Em junho, foi comprado o Colégio Rui Barbosa, em Jandira.
O padrão de adquirir 100% da escola, mas não o imóvel, que permanece como propriedade dos antigos donos, que recebem a renda do aluguel pago pela Decisão. “Somos asset light, não achamos que comprar a sede seria a melhor alocação do capital, o que faz sentido para o vendedor, já que em 99% dos casos eles são donos do imóvel, e assim garantem renda para sua aposentadoria via aluguel”, diz Camacho.
Ele não abre os valores de cada transação para evitar a conta de valor por aluno, muito utilizada nos M&As do ensino superior, segundo ele inaplicáveis no nível escolar. Mas dá uma pista sobre o valuation: de 0,5 a 0,8 vez o faturamento anual, ou seja, uma escola que fature R$ 10 milhões pode ser vendida por R$ 5 milhões a R$ 8 milhões.
“É um mercado muito pouco consolidado, talvez por serem ativos pouco sofisticados, com mensalidades baixas, que traz desafios interessantes e temos que tratar esses M&As com a complexidade adequada, sabendo que o outro lado talvez não tenha essa sofisticação”, explica Gustavo Arbach, sócio do Marcos Martins Advogados responsável pelas aquisições da rede.
Com 14 mil alunos na rede, a expectativa de receita para 2025 é de R$ 200 milhões já incluindo as aquisições recentes.



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